Os soluços finos
Dos violinos
De outono
Ferem minha alma
Com a lânguida e calma
monotonia do sono.
Paul Verlaine
(tradução
de Juremir Machado da Silva)
Meu amor é uma flor perdida na escuridão, eu sei de tudo e nada disse que sei nada sobre a vida. Chegada a hora de me manifestar, a razão anda perdida, os fanáticos percorrem os corpos. Eles são o fundamento desta pobreza de espírito, ainda ando devagar, quase correndo, e a fronteira é parte da vida. Devo ir adiante sem olhar para trás, devo ir avante remoendo a linguagem, desopilando o espírito?
Tenho que escutar a sabedoria do velho sentado
à beira da estrada, logo em frente a um bar, cuja placa deixa claro aos
viajantes: “Atendemos só os filhos de Deus”. O velho olha-me e diz que não é
para levar a sério, que entre e compre o que bem quiser, pois o filho dele é só
um fanático, não entende nada da vida, só dizer que é o que ele quer que seja,
que eu compre e caia fora. Antes que ele percebesse já tinha partido e o velho
me comentou: “Vai, meu caro, Deus está dentro de ti, ou não. Não importa, a
fronteira é logo ali adiante”.
Tenho que ir embora, enquanto o trem não
aparece, olho para todos os lados, o que mais me encanta é o céu, perdido me
vejo na clareza da vida. Depois da cancela, depois de uma coxilha, estarei na
estação do outro lado, feliz e triste, à espera do trem.
O Vazio dos outros me encantava, não mais.
Dou o adeus na solidão, não gostaria de estar na estação sem os amigos. Eles já
partiram. Tenho medo e me sinto feliz por ir ao encontro de todos. Agora é
tarde, dizia minha avó, e ela partiu antes de eu mesmo ter nascido para o mundo.
Quando eu ainda chorava em sua cama, ainda ouvia sua voz. Era apenas uma
criança. Aprendi a amar com a despedida sem um diálogo. Soube que eu ficava por
perto. A solidão marcou minha vida.
Da luz vem a sombra, os galhos de
manjericão na estufa de um quarto escuro. Provisório. Tudo nasce, vive e morre
diante da lente − os galhos pagãos percorrem o Ocidente desta casa rumo ao
hermético poço de luz dos olhos em luminosos dançantes do abril que está por
vir. A fronteira é logo ali, na curva do equinócio de cada errante navegante.
(Releitura de 2020 sobre o outono)
Nenhum comentário:
Postar um comentário