“A velharia poética tinha boa parta
na minha alquimia do verbo.”
Arthur Rimbaud
A
vida serpenteia na solidão de Rimbaud, o melhor de tudo é o sono bêbado na
praia, o movimento que pertence aos esquecidos do século, e nem mesmo a dor
desfaz a realeza poética e o desejo dos esquecidos. O tesão não se contém, invade
a vida na dor do corpo, até acalmar o medo e escolher seu lugar para descansar.
E os ossos aquebrantados, diante do preparo da pátina nas paredes da alma,
nessa bruta solidão que vomita no meu país envelhecido por sua riqueza cruel, e
que não deixa revelar a imagem empenada na parede nua da vida, nas entranhas do
medo que o totalitarismo faz nos velhos deste lugar, um misto cruel de racismo
sem consciência, com absoluta naturalidade das desculpas e esquecimento do todo
secular chamado, perdoar sem reparar. E nunca vai embora, continua
escorrendo na idade da razão entre os dedos trêmulos, segura a vida que escapa,
mergulha o corpo embebido em papel de livro – lá o movimento é naturalmente
mais leve e o domínio da realidade está distante dos olhos críticos. Ninguém
vive entre os corais, nas profundezas do mar dos condenados, o velho saiu para
nadar e nunca mais voltou.
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