domingo, 22 de dezembro de 2024

A temporada de um velho


 


“A velharia poética tinha boa parta na minha alquimia do verbo.”

Arthur Rimbaud

 

A vida serpenteia na solidão de Rimbaud, o melhor de tudo é o sono bêbado na praia, o movimento que pertence aos esquecidos do século, e nem mesmo a dor desfaz a realeza poética e o desejo dos esquecidos. O tesão não se contém, invade a vida na dor do corpo, até acalmar o medo e escolher seu lugar para descansar. E os ossos aquebrantados, diante do preparo da pátina nas paredes da alma, nessa bruta solidão que vomita no meu país envelhecido por sua riqueza cruel, e que não deixa revelar a imagem empenada na parede nua da vida, nas entranhas do medo que o totalitarismo faz nos velhos deste lugar, um misto cruel de racismo sem consciência, com absoluta naturalidade das desculpas e esquecimento do todo secular chamado, perdoar sem reparar. E nunca vai embora, continua escorrendo na idade da razão entre os dedos trêmulos, segura a vida que escapa, mergulha o corpo embebido em papel de livro – lá o movimento é naturalmente mais leve e o domínio da realidade está distante dos olhos críticos. Ninguém vive entre os corais, nas profundezas do mar dos condenados, o velho saiu para nadar e nunca mais voltou.


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