“Deixar de viver fragmentariamente.”
E. M. Forster
Andar, caminhar nas nuvens, deslizando memórias
no tempo que desloca a imagem entre o olho e a velocidade dos objetos em
movimento, naquilo que tem de mais sagrado, a capacidade de pensar, sentindo o
líquido dos sonhos, adiar os acontecimentos no relógio que desaparece diante da
relação do tempo com o viver do absolutamente – nada mais para viver – tudo tão
perdido, sintaxe dos sentimentos, uma construção de aromas, sabor da comida, gole
do vinho, e a sensação de ter vivido tempo suficiente para não lembrar do que
já foi vivido.
O resgate da memória está nesse acolhimento de histórias, de leituras, longas horas na água, observar a vida na profundeza das águas do imaginário, e o relógio quebrado no movimento das braceadas, a respiração no sopro de voz no inaudível, retrato colado na alma, sem tempo, a busca de uma compreensão da leitura, um desejo de voltar para um lugar em companhia do tempo sobreposto sobre o Nada. O sopro da voz, o som das coisas, o calor, o frio, a percepção de ver sem ter perdido de vista o tempo, e não se interessar ao absoluto da data, que corresponde de um dia ter lá vivido. E se realmente, lá ter ido, no lugar, a obra, o som, a pintura, na água, o fogo que destrói é o corte desse tempo, do retardamento do relógio, que não termina é o desaparece no presente. A finitude das coisas. O que importa é sentir-se como um flâneur. Ironia, parado no tempo, sem mobilidade, o movimento do ser, transmigrar de um lugar ao nunca alcançado, na direção do desconhecido. É real, nas manhãs a catalogar restos de objetos submersos, se deixa ficar exausto, como se tivesse atravessando um grande rio, em que nunca conseguiu chegar à margem, se imaginar do outro lado, lendo a escrita do seu outro lado, parece querer ser tradutor de uma história esquecida, morta, como todos os lugares que conhecera, sem tempo para viver, partiu chorando, por dentro, matando um sonho em cada viagem.
Dentro de si, um velho, lugar que habita,
as imagens, sons diferenciados, pássaro da invenção, seres forjados em vida
toda, nadadores, escribas, poetas, a dor dos Outros atribuídas ao tempo que vê
a solidão das paredes, os vermes comendo a idade, como um personagem visto, indo
se afogar em ideais em sonhos construídos através de livros, músicas, paixões,
associação do tempo que em deslocamento, surge a relatividade maluca sem pé nem
cabeça, ver o lado que inexiste voltar à existência, sentidos. E que a
existência, pensando em Bergson, irrompe como uma conquista sobre o nada,
Então, da nascente, o que revigora nas águas do autodesconhecimento, o profundo
conhecimento do seu interior, porque o imaginativo, um dia desses, poderá sair
feito barco, navegando rumo ao frio, até o não
lugar da imagem margem da Terra.
Nos espaços, alongou-se a existência sobre
o Nada, como se fora um tapete, surgindo depois o Ser, e dentro de todas coisas,
o existido, o fantasmático, naves sem conexão com a realidade, sem
discernimento argumentativo do jogo dos humanos. Pouco importa, nadar, morar,
morrer, nascer, acordar no meio da escuridão, tatear a dor, e perseguir o outro
lado da margem.
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