quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O verbo ausente

 



“[...] Ó míseras cidades de homens ardilosos,

Ó desprezíveis gerações de ilustrados,

Perdidos nos dédalos de vossa ingenuidade,

Vendidos aos dividendos de vossas próprias invenções.”

T.S. Eliot

Não há necessidade alguma de fechar os sonhos, de interromper a leitura, de fechar as portas, de parar de inventar histórias, de viajar ao nada, de atravessar o oceano, não é preciso interromper o fluxo sanguíneo das ínfimas investidas na vida, não porque, tudo numa mesma coisa, é desde sempre, correndo do absoluto, do medo de viver sem propósitos, e tudo que nasce no dia, e que o acompanha nas tentativas de deixar morrer é o mesmo que te faz um sobrevivente, morto, e diante do nada, nasce o absurdo dos projetos inacabados, e de repente, surge um texto novo para ler, para sonhar em construir um lugar bom para acomodar sua dor, para dar mais afeto a sua vida, de começar novamente, e diante de mais um livro, um filme, um embeber-se de tanto amor e vontade de ir mais longe, de voltar no tempo que não é seu, que é do passado, e mesmo melancólico conseguir sorrir e iludir-se com a vida, como se existisse um paraíso a sua espera, como se pudesse dormir a noite toda, acordar ouvindo música, ao lado de uma mulher, de si mesmo, sozinho, sonho de ter tudo isso no seu tempo, e, depois, de muito ler, trabalhar, morrer feliz, bem longínquo do medo de acordar para mais um dia de sonhos, e de promessas, do acaso, das constantes e absolutas verdades que é viver, e ter que se deparar com tanta coisa ruim, injustiças, em si, no outro, na existência de ser o Outro, de morrer iludido com promessas feitas por sua teimosa racionalidade, e devaneio de querer vencer em algo uma só vez na vida. Se Deus é onipresente, bem que poderia salvar os seus seguidores. E se no mundo somos todos nós, aqui dentro, já dizia meu amigo Luiz Mauricio, estou em toda parte.


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