sexta-feira, 15 de abril de 2022

Sexta-Feira


 


Minha dor permanece atenta,

os olhos capturam a infância

a cidade é mais um detalhe dessa dor,

as ruas povoam o medo circunstancial.

 

Meus irmãos sofrem, sentem, olham,

e a cor do espelho na solidão,

a imagem dos esquecidos,

um caminhar lado a lado,

um sonho de cumplicidade.

 

Se o fim existir, se tudo isso vir: o agora,

Ser da existência for a permanente,

será o último poema na luz dos olhos.


Entregar em casa teus doces,

Um exemplar não sorvido,

Uma dança no bar do trem noturno.

 

Quebrei todas as minhas taças,

Amaldiçoei os descuidos, costurei meus erros.

Te olhando, dobrei todas as roupas, vesti a vida.

Arrumei as vestes, rosto lavado de lágrimas,

O sorriso banhado na saliva.

Abri a porta, deixei a geladeira no mesmo lugar,

cerrei as janelas, tomei o último gole de vinho,

e saí no vácuo do amor.


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