quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Esboço de um retrato

      Madrid - Palácio de Cristal del Retiro -2013
 



“... pois essa atitude estava em harmonia com a dignidade que lhe conferia o ato de ‘reinar’, em face da forma sublime que lhe pairava ante os olhos.”

                                          (Thomas Mann – A montanha mágica)

 

Toda manhã retorna a seu tempo, os dedos alcançam o lugar mais distante, o que está oculto, através do espelho, reflexo do tempo, o relevo, a textura, o ar denso, o movimento, o ar da vida, a respiração do outro lado, é a constante presença, a constituição da vida.

O presente pulsar, a certeza da existência. O vento corta as paredes, invadindo a palavra no cristal que reflete sinais vitais, a finitude das coisas. E o pensamento que percorreu décadas de sonhos, desde o adeus, os retornos tantos, a concretude das palavras, o mistério das paixões, todas as dores na poesia, e tudo dentro da esperança no eterno retorno do tempo refletido no espelho e uma mala quase vazia atrás do sonho. Castorp foi, a vida arrastou-o pelo mundo. O amor, um coral escondido no fundo do mar, a sua salvação preservada em todos os séculos. E lá estava ela de braços abertos.

A idade, a gula dos dias de sonhos, o acaso contínuo, o movimento, morada da fome, uma vida e tanto para o retorno sem fim. A infância está lá ainda, o espelho do tempo, um tanto de amor em fragmentos, em cubos de totalidades, a fragilidade do pensamento. Essa força na escrita que vem de ti. O caminho de casa, a ilusão da volta, estilhaços de nuvens, a poesia e quase todo o desenho no céu da criança. 


Nenhum comentário:

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...