“pedaço
de mar,
iça,
onde moras,
sua
capital, a
inocupável.”
Paul
Celan
Vou no som do murmúrio das águas, das mãos
estendo histórias sobre o dia até o sol se pôr. Da voz escorre a umidade das
letras em pele e olhos negros se perdendo nas entranhas do tecido. Das vestes, cores
roçando o corpo e dedos que dedilham mais uma pintura da carne, o toque na
tela, um riso perdido no ar, o arejar das pernas no vento que traz o aroma da
eternidade do tempo. Pendurar a vida nas cercas da casa próximo ao mar, deixar
escorrer na leveza do amor morto na natureza, dormir relendo o noturno da
insônia do ano que não acabou.
Acordar em frente à janela escancarada do
novo dia, um cheiro vindo da manhã com café e calor. O vento de chuva passou
longe de meu sonho, do suor da vida acumulada pela idade, o correr cedo para ir
nadar em fuga do que já é mofo, molhar a alma, folhear as ideias em nascentes
de rios e livros que insistem em viver.
Secar-se diante da solidão, encontrar
forças na respiração, arredar a máscara, tomar fôlego e colocar a louça para
lavar e secar junto às roupas perdidas no tempo. Bem antes da tempestade fria,
do esquecimento e do perigo iminente do mal, ensaiar novo álbum dos que lutam.
Mais uma viagem até o pátio, um carnaval de samba e rappers, vozes femininas,
sinfonias eternas, rufar dos acordes sem orientação alguma, um caminho imaginário
até o mar frio do norte. Chuva e sol, corpos lado a lado partem na primeira
nave diurna do primeiro domingo.
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