sábado, 22 de maio de 2021

O hóspede do poeta

     Cádiz - 2016 


“Se todo tempo é eternamente presente
Todo tempo é irredimível.”
T. S. Elliot


O início, a flor da vida, a lua estendida no final da rua,
A infância, o clarão do dia que revela a vida dos olhos,
Depois vem o nascer, do que vem o choro,
Amor puro, a única coisa que preenche a memória nua.
 
O estar dentro no mundo das coisas esquecidas,
E tudo brilha, o turbilhão que nasce, a noite que assusta,
O dia muda, a noite que esquece o lamento do acordar,
A noite que abriga a solidão, estrelas para se beijar,
O chão para rastejar durante o dia é o que sobra.
 
Assim se passa à outra fase: esquecimento é mútuo,
O corpo avança, o corpo descola o tudo, a infância dá adeus,
Depois dorme, renasce no movimento da Terra,
A morte não existe, o vitalismo esconde o medo,
Solidão, a terapia da compreensão dos adeuses.
 
Um dia acordar ao lado de dentro do corpo,
Que aquece, o que se fala, do que se sente,
Tudo é um tocar nas paredes do desconhecido,
Na dança o que move o ser, voa até o ausente,
Na sequência de todos os sons, uma voz em prazer.
 
Afrobeat no coração, amor dos movimentos nas águas,
Os lábios úmidos de tanto sorver o tempo,
Um estribilho das fases da vida, um estilo,
Raízes em todos os lugares, o haver percorre a dor,
O trem aquece o gelo do distanciamento.
Fenda, lugar poético imaginar a morada do filósofo,
Dos esquecidos do mundo material, é o paraíso natural,
O único lugar em que a inspiração transpira na linguagem da pele,
O corpo que se move nas águas no peso dos músculos que já não podem mais abraçar o mundo.



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