sábado, 6 de abril de 2019

O tempo das águas

     Rio Ibirapuitã



“[...] em virar a cabeça para ver as trilhas que foram percorridas; é um produto da reflexidade.”
Paul Veyne

Como já dizia o pensamento:
O dia nublado fecha os olhos dos que não sonham.
O dia abre a mente dos sonhadores.

Entregue ao tempo a recusa do medo atroz,
e o desejo desfaz a solidão do medo arrebatador.
O dizer nas águas que bate forte, o sopro do dia,
o vento que destrói a longa jornada do tempo.

Depois de tudo, o corpo em frente ao rio sem fim,
tal qual guerreiro no despertar da vida, mesmo sabendo da morte, enfrenta a escuridão do ódio contra o que se refugia no pátio abandonado dos tempos sombrios.

O corpo se mantém lá. Parado. O pensamento a voar, dor e o frio tocam a música da infância abandonada no rio de águas pesadas.
O corpo retesado, na vertical da vida, os braços em movimentos, frágeis e decididos.
A dor é o devaneio que toma conta de todos esses anos que aos poucos desfalecerá na idade.

Logo o pensar: eleva tudo e todo pensamento à deriva.
O corpo é uma legião de ideias,
Os caminhos do rio na infância são difíceis,
Cruzar a ponte, engolfado, levado pela correnteza.

Viver todas as idades a partir da viagem primeira.
Abaixo das águas quentes jogadas da usina,
Lá está o menino salvo.
Uma grande façanha, sua primeira aventura.
Atravessou de margem à margem em braceadas de uma vida.


Um comentário:

DENISE M. DE A. SOUZA disse...

lindo texto, viajei no tempo.

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