domingo, 4 de novembro de 2018

Observador da sacada





     Aigues-Mortes - France




“Adorava poder mostrar-lhe o filme, mas, por outro lado, sei que tem outras coisas na cabeça.”
(Win Wenders sobre o Papa Francisco)

Ainda procura ver os rostos, nada pessoal, ele ainda busca enxergar todos em sua individuação, a captura do anonimato é a imagem oca, ele busca ver os olhos dos anônimos.
As imagens confundem o centro, rasga os lados, alarga os braços, entorna o vinho sobre o mundo,
Ele procura os olhos, ausculta o som do mundo,
Ele vigia os sentidos, vê a face do desconhecido, os olhos na multidão é como o tempo que não tem dimensão única, interminável aos olhos a imagem-tempo.
Ele ainda vê tudo como observador privilegiado, o mundo não muda, mãos que matam mudam.
Ele busca o movimento da humanidade, a contínua ida ao desconhecido do Ser, procura o olhar que retorna em sua finitude.
Ele é o observador do que se esgota, do tempo que permanece movente, percebe o transmutar e o que permanece intacto.
O movimento é como a música no filme, um travelling que no silêncio faz a imagem ser os olhos dele,
Ele permanece a olhar o tempo dos olhos esquecidos, dos que creem e os que vivem a pensar nas possibilidades de vida.
Os olhos dele é o signo, que na cena entranha o desconhecido, a imagem-movimento que se dispersa na multidão no momento certo em que o silêncio solapa em meio aos olhos presos na linha do tempo que desfia a ilusão da permanência.

Nenhum comentário:

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...