Aqui em minha sala, entre
os livros e a tela, lembro o que Octavio Paz escreveu “amanhece o mundo sem
gota de sangue”, penso que esse extrato poético é figuração da imagem, é
potencialmente viva, e como ele mesmo diz em outro poema “También la luz em si
misma se pierde”.
O que me assombra é o que
me dá alento para abrir os olhos e encarar o sangue que escorre pelo mundo,
como eu via através da vidraça da janela, no passado, a chuva que atrapalhava
minha vida. Faço um café, ouço o sibilo das caturritas que povoam meu bairro,
ou portas a bater no apartamento ao lado; ao fundo, o violino do vizinho que
estuda no mínimo umas quatro horas por dia. Eu também tenho minhas determinações,
acordar ainda na escuridão das manhãs, depois nadar, pensar e esquecer até
completar uma hora, submerso, entre um ritmo incessante, leve, cadenciado,
penso que é assim que se deve viver.
Nuvens carregadas plumbeiam
meu olhar, a sala de um azul cinzento, me imagino segurando um violino entre o
ombro esquerdo e o queixo, usar o arco como se fosse no mesmo ritmo de
braceadas sobre águas do pensar, como se tivesse escrevendo o texto dos meus
olhos num lago azul de cinza até a margem. É mais próximo da cor ideal, imagino
o próximo inverno no espaço de minha sala até o fim dos dias.
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