“O homem se anuncia a si do outro lado do mundo, e
volta a se interiorizar a partir do horizonte: o homem é – um ser das
lonjuras.”
Jean-Paul Sartre (O Ser e Nada: ensaio de ontologia
fenomenológica)
“Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena
parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com o resto?”
Pascal Mercier (Trem Noturno para Lisboa)
O que é percebido, o que é visto antecipado por já estar
lá, é o que está fora do conceito, o conhecer disto é o poder de observação, ao
longe. A distância é uma questão apenas de espaço, o transfenomenal da
consciência na muda o ser transfenomenal do fenômeno, diria Sartre.
Mais próximo, é poder compreender que se existe algo é porque
está lá, no canto de todos os objetos, de imagens inventadas, pensadas, antes
mesmo de serem nomeadas e o que não precisa ser quantificado, por exemplo, a
vida... é o que temos, o que está posto sobre o mundo.
A vida é o Tempo sem tempo a preencher o ar com inaudito
das coisas pensadas ontem com aquilo que ainda estamos tateando: o perceber é a
condição para se conhecer.
Pássaros de um real que não existe sobrevoam todas as
manhãs a janela do meu quarto, então, o que existe é o que estou a sentir, o que está lá
fora está mais vivo do que nunca, o meu olhar primeiro sente antes de começar a
ver, vai à base, o espreguiçar primeiro, o som, depois se percebe o tempo vivo
dentro de mim... o que está lá fora já existe sem precisar dos meus
pensamentos.
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