“Toda boa escultura, toda boa pintura, toda boa música, sugere
os sentimentos e os devaneios que ela quer sugerir. Mas o raciocínio, a
dedução, pertencem ao livro.”
Charles Baudelaire
Ela inclinou o corpo
até o outro lado da mesa, ali estava ela, com os olhos nos seios, com os olhos
no cálice, com a boca em suas frases, inclinou um pouco mais do o normal, quase
na horizontal, mais do que fazia em outras situações. Um lugar público, um
olhar íntimo, uma voz que parecia vir das caixas de som, que vinha das imagens
da tela, entravam mãos e braços, o outro lado da mesa estava ele com os olhos
em seus lábios, o movimento da língua, imaginação de que a liberdade pudesse
existir na língua...a partir do começo na linguagem nasce um texto, um verso
morre no copo ou no corpo das palavras.
Ela do outro lado
da mesa disse –
estou com sede, favor
me servir um cálice, eu sei que minha voz é melhor que o que escrevo, mas sua
escrita não é minha companheira já um tempo, então me escuta, eu quero um gole
do teu gole, meus seios são só de quem vê a vida, tipo, tipo, eu mesma, o resto
que se foda...enche esse cálice e a vida ficará melhor com nós dois aqui neste
lugar em que não se vê mais mãos sobre mãos.
Imagens a partir do filme de Murilo Salles
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