sábado, 14 de dezembro de 2013

Mãos de palavras


“Toda boa escultura, toda boa pintura, toda boa música, sugere os sentimentos e os devaneios que ela quer sugerir. Mas o raciocínio, a dedução, pertencem ao livro.”
Charles Baudelaire


Ela inclinou o corpo até o outro lado da mesa, ali estava ela, com os olhos nos seios, com os olhos no cálice, com a boca em suas frases, inclinou um pouco mais do o normal, quase na horizontal, mais do que fazia em outras situações. Um lugar público, um olhar íntimo, uma voz que parecia vir das caixas de som, que vinha das imagens da tela, entravam mãos e braços, o outro lado da mesa estava ele com os olhos em seus lábios, o movimento da língua, imaginação de que a liberdade pudesse existir na língua...a partir do começo na linguagem nasce um texto, um verso morre no copo ou no corpo das palavras.
Ela do outro lado da mesa disse –

estou com sede, favor me servir um cálice, eu sei que minha voz é melhor que o que escrevo, mas sua escrita não é minha companheira já um tempo, então me escuta, eu quero um gole do teu gole, meus seios são só de quem vê a vida, tipo, tipo, eu mesma, o resto que se foda...enche esse cálice e a vida ficará melhor com nós dois aqui neste lugar em que não se vê mais mãos sobre mãos.

                  Imagens a partir do filme de Murilo Salles
               

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