“Uma coisa é abrigar
o ‘obscuro’, uma outra é tropeçar no obscuro como um limite”.
Martin Heidegger
(Heráclito)
Eu bem
que pensei que pensar em ti seria um dos meus últimos pensamentos de inverno,
que a temporada do frio já estaria chegando ao seu tempo de esgotamento. A
totalidade das imagens é que consumiram meus olhos que não se cansam de olhá-la
através do divã, das janelas, das portas que estão abertas, que ora cerradas
escurecem meu caminho... Dos seios, das bundas, dos acordes e das sinfonias e
gemidos, eu que fiquei a ver navios morrerem nas águas do Guaíba, nas pedras
pude mijar descansado olhando o vento levar o inverno, pude vê-la atravessar a
avenida na multidão, nos gritos de gozos, no silenciar dos dedos entre as
coxas... Em tudo, eu vi tuas ancas marcando a palma de minha mão com tintas da
palheta e das dobradiças da janela do quarto.
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