Um romance sem piedades. Ironia da perdição de um personagem que deixa de acreditar nos ideais da própria literatura.
“Alice vem dormir no meu apartamento. Nada lhe contei sobre o meu tortuoso caminho. Ela já me contou que fez amor com mulheres e gostou. Chega com um lindo buquê de rosas para enfeitar e perfumar a casa. Já me convenceu a ter um blog. Vou falar de mim. Sem pudor. Por que teria pudores? Sou um homem feliz com o que Deus tem me dado. Por exemplo, ela. Já temos um pequeno conflito sobre o conteúdo do blog: ela quer que eu faça literatura e não me prenda à estreiteza da verdade. Eu tento mostrar-lhe que filosoficamente a verdade é uma construção coletiva, um imaginário. Ela se irrita e garante que isso é conversa de mentiroso e de canalha. Acabamos sempre na cama”. (Solo, Record, 2008)
Um romance que não crê mais nas promessas da vida. O lúdico atravessa o tempo para encontrá-lo nas reminiscências.
“Talvez tenha começado quando Sonia morreu, não sei, o fim da vida conjugal, a solidão de tudo, a maldita solidão depois que perdi Sonia, e aí eu me arrebentei todo naquele carro alugado, destruí a perna, quase me matei nesse episódio, talvez isso também tenha ajudado: a indiferença, a sensação de que, depois de setenta e dois anos nesta Terra, que se importa que eu escreva sobre mim ou não? Nunca foi algo que eu me interessasse, nem mesmo quando eu era jovem, e sem dúvida nunca tive a menor ambição de escrever um livro.”
“Fugir para dentro de um filme não é como fugir para dentro de um livro. Os livros nos obrigam a lhes dar algo em troca, a exercitar a Inteligência e a imaginação, ao passo que podemos ver um filme — até gostar dele — num estado de passividade mecânica.” (Homem no Escuro, Companhia das Letras, 2008)
Um comentário:
Que nada, cinema também é arte, importante e interessante.
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