quarta-feira, 4 de julho de 2007

A fenomenologia das imagens

“As sílabas recolhidas pelos lábios — belo silencioso círculo — ajudam a estrela rastejante em seu centro.”
Paul Celan

Os sentimentos andam ao lado de nossa vontade. Nossos desejos não são alterações meteorológicas e sim psíquicas. São funções de nossas percepções e sonhos. Um cruzar de idéias que percorrem o tempo de nossa existência. Esse cruzar complexo, onde mora o único valor, o que pode nos manter vivos todas às manhãs quando acordamos. É o acordar do “trajeto antropológico” sob as imagens que circulam nosso Ser esse tempo todo. Sonoridade na dor, na despedida e nas chegadas das imagens. O encontro do vivido com o que buscamos mais adiante do olhar.
Meus sentimentos começaram antes do século XX findar. Bem antes, quando ainda sentia poder encontrar através das imagens todas as linguagens que fossem o expressar do cotidiano. O cotidiano lançou seus dados Mallarmaicos que impulsionaria as inspirações nos signos de hoje. Assim acordei pensando em Octavio Paz no seu Arco e a Lira, em que diz: “Não é a técnica que nega a imagem do mundo; é o desaparecimento da imagem que torna possível a técnica”.
As palavras tomam conta dos dias. As gerações, eu leio, incessantemente, me afasto a cada página lida. Fujo dos absolutos. Entrego-me incessantemente à diversidade da vida, da dor, das paixões.
As palavras são mais do que razões para se ter, pensar sobre os objetos e sobre as possibilidades da verdade. Muito mais, elas, agora, a linguagem, o signo me levou para o distante das utopias. Joga-me no deserto dos saberes, da desilusão e do fim de um tempo que se abre ao novo. De outros: do fim dos fins. Sempre a jogar, as palavras verdadeiramente à vida do fluxo e refluxo da dialógica dos acontecimentos.
Um olhar fenomenológico é posto acima disso, do que está dado, é um complexo religar as imagens do cotidiano. À deriva, ao sabor do presente e de todos os tempos, as imagens são verdadeiras como “as noites que fixam sob o teu olho”, escreveu Paul Celan.

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