segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Passagens

      Paris - Sena  


“Somos uma barragem onde se acumula o tempo, que se precipita em nós mesmos quando surge aquela que esperamos.”

Walter Benjamin (Passagens)

 

 

Faz luz, faça chover, faça bolo, o café acorda antes de mim,

Faço rímel, risos dos olhos escuros,

Coração guarda um segredo, flanar do mal,

A dor expõe o silêncio da vida, a pele arrepia as cores.

O equilíbrio das pernas combinam mais com o movimento,

O tempo dos braços é tão longe, tão perto do coração,

Distante do vírus de uma modernidade em fuga,

O contentamento do corpo pela casa, pensamento pelo mundo.

Um convite, um gole, uma filosofia, um vão da alma,

O que escorre é o suor do medo, o tempo acalma,

As mãos tão distantes, o beijo atrás da vidraça,

A lágrima é pura intimidade, vives tão só.

Um Benjamin nos boulevards internos, à margem do rio,

O passante leva consigo o poema, retorno ao mar,

A passage de Montmartre é para além do medo,

O voltar da imagem que desaparece no nevoeiro,

Atravessas países, os limites da vida.

Nada descansa a alma enquanto a liberdade estiver sob ameaças.

 

Nenhum comentário:

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...