“Liberdade
de usar qualquer tom.”
Albert Camus
Olhos
dos seus olhos, unobtainuim[1]
para os sentidos. Olhos que escondem e desvendam a quebra do real. A ilusão é
mais fácil enquanto dispensamos do vocabulário das aparências. Nem toda
realidade exclui o que é aparente, pelo menos do exercício de refletir sobre a
importância de quebra as paredes entre os fatos e o que está por detrás do
significado. Certo, se tem o signo, é claro, tem a importância de dizer algo,
de revelar o que está escondido. Velha e surrada poética é que salva a reflexão
diária, o cotidiano precisa do que se vê para abstrair e compreender a
complexidade do que foi visto, das imagens.
Diria,
reserva raríssima do destino que perdido no sono acorda do real na claridade
escura do sonho. O sol é uma imagem diante do momento, calor dos corpos, do estar
fora do contexto político e é mais que real na solidão da noite.
É
nos olhos que não alcançamos a fotorealidade de imagens, nem o som é um
tilintar especial aos bons ouvidos. Se a realidade é para Hegel a unidade
premente, toda a intenção não passa de um objetivo obscuro ao real. Então,
vamos lá, a esmo acordar do sonho. O real não é garantia de vencermos o acaso.
Ainda bem. Dispenso o estoicismo. Não há razão divina capaz de semear o real o
mundo das coisas. No século XXI, o determinismo dos favorecidos por normas e
razões determinadas sob o cânone das mídias, por exemplo, é mais um apenas,
determinante que pega o comboio para o futuro.
Nada
existe de definitivo quando pode haver a quebra através da reflexão, dos
opostos, pois, a mesma arma que se tem para forjar, golpear a realidade é a que
desfere o tiro que estilhaça no corpo do real. Se a humanidade não tivesse em que
se preocupar viveríamos apenas das construções divinas, dos determinantes das
escolas sofísticas, de neutralidades das leis, do cientificismo pronto para nos
levar ao futuro.
Os
loucosnews andam soltos, vociferam,
armam notícias, se vestem de realidade e engolfam multidões em suas previsões de
bombásticas denúncias. Mas pior, é o revestimento de um falso consenso, da
tentativa de iludir com o apaziguamento retórico, vestido de legitimidade,
bordado em novas news prontas para
arrebatar e fazer com que boa parte das pessoas tenham a sensação de que agora
o mundo vai melhorar.
Por
que jogamos um jogo? Não é só para vencermos, é para esquecermos o fim do jogo.
O ato da reflexão já é o princípio de jogar na vida, com todas as peças da
complexa tarefa dos momentos que em que se está a jogar para poder aprender
Viver diante dos Impossíveis e Possíveis dias que possamos quebra com a unidade
imposta.
“Desse modo,
um pensamento que traz algo de novo para o mundo por força há de se manifestar
através das ideias já prontas que encontra à sua frente e arrasta em seu
movimento; aparece assim como relativo à época em que o filósofo viveu: mas o
mais das vezes isso é apenas uma aparência.”
Henri
Bergson
[1] O
que se pode encontrar fora do Real, o "inobtível" (em Inglês,
unobtainable) aqui é parte da textura, como bem escreveu Bergon, H. “Pode se
tratar de uma preparação para bem viver”.
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