sábado, 3 de fevereiro de 2018

Unidade Quebrada

                   Mato Grosso - visto de dentro e do alto.





“Liberdade de usar qualquer tom.”
Albert Camus

Olhos dos seus olhos, unobtainuim[1] para os sentidos. Olhos que escondem e desvendam a quebra do real. A ilusão é mais fácil enquanto dispensamos do vocabulário das aparências. Nem toda realidade exclui o que é aparente, pelo menos do exercício de refletir sobre a importância de quebra as paredes entre os fatos e o que está por detrás do significado. Certo, se tem o signo, é claro, tem a importância de dizer algo, de revelar o que está escondido. Velha e surrada poética é que salva a reflexão diária, o cotidiano precisa do que se vê para abstrair e compreender a complexidade do que foi visto, das imagens.
Diria, reserva raríssima do destino que perdido no sono acorda do real na claridade escura do sonho. O sol é uma imagem diante do momento, calor dos corpos, do estar fora do contexto político e é mais que real na solidão da noite.
É nos olhos que não alcançamos a fotorealidade de imagens, nem o som é um tilintar especial aos bons ouvidos. Se a realidade é para Hegel a unidade premente, toda a intenção não passa de um objetivo obscuro ao real. Então, vamos lá, a esmo acordar do sonho. O real não é garantia de vencermos o acaso. Ainda bem. Dispenso o estoicismo. Não há razão divina capaz de semear o real o mundo das coisas. No século XXI, o determinismo dos favorecidos por normas e razões determinadas sob o cânone das mídias, por exemplo, é mais um apenas, determinante que pega o comboio para o futuro.
Nada existe de definitivo quando pode haver a quebra através da reflexão, dos opostos, pois, a mesma arma que se tem para forjar, golpear a realidade é a que desfere o tiro que estilhaça no corpo do real. Se a humanidade não tivesse em que se preocupar viveríamos apenas das construções divinas, dos determinantes das escolas sofísticas, de neutralidades das leis, do cientificismo pronto para nos levar ao futuro.
Os loucosnews andam soltos, vociferam, armam notícias, se vestem de realidade e engolfam multidões em suas previsões de bombásticas denúncias. Mas pior, é o revestimento de um falso consenso, da tentativa de iludir com o apaziguamento retórico, vestido de legitimidade, bordado em novas news prontas para arrebatar e fazer com que boa parte das pessoas tenham a sensação de que agora o mundo vai melhorar.
Por que jogamos um jogo? Não é só para vencermos, é para esquecermos o fim do jogo. O ato da reflexão já é o princípio de jogar na vida, com todas as peças da complexa tarefa dos momentos que em que se está a jogar para poder aprender Viver diante dos Impossíveis e Possíveis dias que possamos quebra com a unidade imposta.

“Desse modo, um pensamento que traz algo de novo para o mundo por força há de se manifestar através das ideias já prontas que encontra à sua frente e arrasta em seu movimento; aparece assim como relativo à época em que o filósofo viveu: mas o mais das vezes isso é apenas uma aparência.”
Henri Bergson




[1] O que se pode encontrar fora do Real, o "inobtível" (em Inglês, unobtainable) aqui é parte da textura, como bem escreveu Bergon, H. “Pode se tratar de uma preparação para bem viver”.

Nenhum comentário:

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...