“Dois mil e quinhentos anos depois da tecedura
de Platão, parece que agora não só os deuses, mas também os sábios se
retiraram, deixando-nos sozinhos com nossa ignorância e nosso parco
conhecimento das coisas.”
Peter
Sloterdijk
Definitivamente o determinismo decretou
que os blogs estão em crise, que as pessoas migram mais rápido que cupins de
uma madeira a outra, que passam num movimento rápido à noite e que de durante o
dia já se percebe que ali viveu um blog. Ninguém naquele espaço habitará mais,
a não ser o vazio de caracteres deixados consiga ser a metafísica constante das
linguagens trôpegas de uma modernidade cínica.
Assim penso, será que foram os blogs que migraram à noite para
outro espaço em caracteres em uma necessidade causal, que no lugar onde existia
uma linguagem restou uma pasta oculta e que um dia alguém ainda irá lembrar? Ou
mesmo, posso pensar, que de onde havia a linguagem nunca existiu destino e
significados em sua textura, que tudo é fruto dos que pensam em guardar apenas
na memória. Nem memória existe mais agora, a não ser que fique impresso e
guardado em uma gaveta imaginária onde cupins não possam abocanhar. Nem a nuvem
consegue suportar a memória, ela exige demais, é altamente corrosiva, poderia
muito bem acabar com o esquecimento, desmitificar previsões e mudar o rumo do
que era um determinante e se tornar em fractais.
O fim é o espelho da repetição diferenciada, não existe
propriedade do que se espelha se não tivermos a velha crença de que a ideia
combinada com a lógica dos acontecimentos só permanece se puder continuar
corroendo as madeiras.
As nuvens que alimentam e guardam memórias são raras hoje em dia.
Nem um pouco de sentimentalismo, mas uma porção de devaneio nos permite
esquecer o acontecimento, depois é crer que o agora é diferente do antes. Como
diz o designer, “o que parece simples para mim, talvez seja complexo para outra
pessoa” (Vitor Lourenço), mas o que é complexo nunca deixará sua complexidade
pelo simples fato que o finalismo contemporâneo está mais para uma migração do
que para uma etapa avançada do pensamento.
O grau de complexidade é a luz de linguagens jogadas no tempo e
para que alguém pessoa possa tê-la é não necessariamente poder tornar simples o
seu grau de uso. E, hoje, definitivamente a imagem é apenas o cenário em
movimento às linguagens que correm tempo das certezas. Para os fins dos
determinantes e para novas crenças existirem serão imprescindíveis sujeitos
privilegiados ou não. Estar rompendo e descobrindo a melhor maneira de
desmitificar o destino é tarefa do pensamento.
(texto ampliado de 2011)
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