“Para mim, nada era prescrito, nada proibido, nem
carne, nem roupas, nem mulheres de tal ou tal casta, nem modéstia, nem
devassidão.”
Paul Nizan
Quando nasci, alegria de mãe, a infância, a ditadura,
O cuidado de pai, a vida em família, a loucura do Brasil,
A solidão da juventude nos anos de chumbo, a alienação,
Os irmãos, o espelho do mundo, a morte, a educação,
A frustração, o primeiro arrependimento, o beijo no vazio,
A primeira namorada, a vergonha de ver o país em ruínas.
A compreensão do mal, a falta de intimidade com o bem,
A resposta cartesiana para tudo, a força positivista,
A morte, a ditadura, o futebol, a ilusão, a música, a
escola,
Os amigos, as brigas, as serpentes, os cachorros uivaram,
o lobo,
A intimidade, o mundo nas ondas do rádio, o cinema
imaginário,
O sonho de viajar, o beijo roubado, a paixão por
figurinhas,
O jogo, o lúdico, o fim da infância.
A adolescência, a frustração, o fechar de olhos, o abrir o
peito,
A morte de amigos, de parentes, a vida batia na minha
cara!
O fim de um tempo. A cidade grande, os amigos, a ilusões.
O país do futuro, o presente de merda, o grito de porra, o
gozo.
A foda de comida, a fonte de vida, o grande beijo, os
livros...
A vida era um filme, um livro sobre o nada.
A juventude envelhecida, o país de vadios, de vícios bons,
de malditos do bem...
De bons mocinhos do mal, de maldade em maldade a Brasil,
O novo século, a morte, a doença, a revolta trazida do
interior,
A cara de maldade do adeus, a fome de bola, a bola nas
costas, o país do futuro.
A velhice não demora, a vida avança o medo das rajadas,
dos tiros,
A ditadura dos dentes, da raiva da razão cega, do estertor
da verdade vazia.
O Brasil do presente. A rede, a fonte de vida, o lado orgânico
do amor, o beijo que dei ao vento.
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