quarta-feira, 1 de junho de 2011

Imagens e Vozes da Legalidade

                                                    


                                                               Fotos: Lemyr Martins

Fragmento do livro  Voze da Legalidade: política e imaginário na Era do Rádio.
Autor: Juremir Machado da Silva
Editora Sulina, 2011
Páginas: 56-57

As mensagens seguintes, acelerando o passo da história e freando os discursos vazios sobre a importância da manutenção da ordem, falam em possibilidade de “guerra civil”, palácio “cercado de barricadas”, “povo sendo ativado contra Forças Armadas” e “mil homens intensamente armados e muita munição”. A resposta não se faz esperar, como nunca se fazem esperar as respostas indesejadas ou impensadas, como não se fazem esperar as notícias dos amores partidos e das ordens insanas. Exige-se “firmeza e energia do III Exército”, que parece muito firme, embora seus fundamentos já estejam abalados, para que não “cresça a força do adversário potencial”, pois já há adversários e inimigos, já há campos formados, rufar de tambores, gritos de guerra congelando-se no ar. As rádios Guaíba e Farroupilha devem ser caladas. Foi aí certamente que Machado Lopes mandou o capitão Leal marchar para a ilha da Pintada. Guaragna enfrenta a noite fria e chuvosa para ir ao Piratini advertir os entrincheirados. Ronda o prédio como um fantasma molhado, ofegante, ansioso, sentido as palavras incandescente saltando-lhe pela boca seca, vacila diante das “enormes portas de ferro e vidro”, umidamente fechadas, soturnas como a tampa de um túmulo. Finalmente vislumbra a figura de Hamilton Chaves, acena para ele como se estivesse soltando uma pandorga sob um temporal, entrega-lhe os papéis, sente o peito arfar, despede-se ainda mais ansioso pelo pior, as novas mensagens que poderiam estar sendo cuspidas em morse. Essa visita desesperada encontrará eco na fala de Brizola pelo microfone da Guaíba, já instalada nos porões do Piratini: “É uma loucura o que querem fazer com o país”. Em tom patético: “Adeus, meu Rio Grande querido, pode ser este realmente o nosso adeus. Mas aqui estaremos para cumprir com o nosso dever”. Agosto, mês de desgosto.

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