terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A lâmina na garganta - Albert Camus




O calor enlouquecedor nas cabeças, essa impressão maravilhosa sobre a Argélia em um romance inacabado de Camus. A infância nesse texto que foi encontrado nos pertences no dia 04 de janeiro de 1960, quando Camus morreu, é desconcertante. O texto que retorna ao passado, vasculha a vida e vê um mundo ao lado de outro mundo, da Europa, a França sempre presente no texto. Essa passagem é uma espécie de encontro do calor do verão com a morte.

Le Premier Homme

“Ah, sim o calor era terrível, e muitas vezes fazia quase todos ficarem loucos, mais enervados a cada dia e sem forças nem energia para reagir, gritar, insultar ou bater, e o nervosismo se acumulava assim como o próprio calor até que, de um lado e de outro explodisse no bairro amarelado e triste — como naquele dia em que, na rua de Lyon, quase nos limites do bairro árabe que era chamado de Marabout, em torno do cemitério cortado no barro vermelho da colina, Jacques viu sair da loja empoeirada do cabeleireiro mouro um árabe vestido de azul e de cabeça raspada, que deu alguns passos na calçada em frente ao menino com uma postura estranha, o corpo inclinado para a frente, a cabeça muito mais para trás do que parecia possível, e de fato não era possível. O cabeleireiro, que enlouquecera enquanto o barbeava, tinha cortado com um único golpe de sua longa navalha o pescoço que se oferecia a ele, e o outro nada sentira sob a fina lâmina além do sangue que o asfixiava, e saíra, correndo como um pato mal degolado, enquanto o cabeleireiro, que os clientes seguraram imediatamente, urrava de modo terrível — como o próprio calor nesses dias intermináveis.” (O Primeiro Homem, p. 230, Nova Fronteira, 1994)

3 comentários:

Platero disse...

uau!
bjs e feliz 2010 p ti, luis!
com calor e tudo...

. fina flor . disse...

o calor enerva qualquer um em qualquer época. deteeeeesto.

beijos, querido e um ótimo ano novo

MM.

Luara Quaresma disse...

Voce é cheio de nostalgia (:

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...