quinta-feira, 21 de maio de 2009

Uma música no fundo


Foto: Denise Souza

“Não há um parentesco próximo entre romance e música.
Mas existe uma música na estrutura dos meus livros.” Chico Buarque


Quantas coisas se pode fazer na vida, nobres ou simples, as do cotidiano ou as da alta cultura? A linguagem nos leva a todas elas. Ao tempo necessário. Enquanto se espera um voo, se abre um livro. O avião atrasa e as páginas naturalmente avançam conforme o interesse do leitor.

Se ouve uma música, se lê, se olha para os lados, mas a leitura é uma das nobres atividades em meio ao burburinho das escolhas. Se diz que a leitura flui quando existe a consonância entre os signos e o ritmo que proporciona o tom e a compreensão da obra. A forma está ali, neste caso com a musicalidade das palavras. O ritmo do texto me remete ao Chico Buarque.

A cada palavra, a cada construção das ideias, o pensamento chegando antes no Rio de Janeiro e como diz o Chico, “um assovio, um cantarolar que dita o ritmo”. Nem todo o leitor é um iconoclasta, ele lê e ouve com o coração. Eu leio e me afasto com o coração na mão, não em direção à história mas à forma que atravessa as páginas do livro.

As palavras me levam ao longe e meus olhos acompanham de longe até se juntar ao ritmo do Leite Derramado que escoa na viagem. Vi um escritor rindo das coisas, do tempo, relembrando um fragmento da vida no cenário mais brasileiro. O fim chega, o Brasil passa à margem dos meus olhos que observa a cidade lá embaixo.

Não me preocupo com a influência ou não de Machado de Assis. Deixo isso aos que veneram. Eu simplesmente leio. Fecho o livro, pego um táxi e passo pelas ruas onde o romance nasceu com a música.

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