domingo, 12 de outubro de 2008

Imaginário e Cotidiano


                                  De Jean-Luc Godard
Inumanidade  - As idéias claras são inumanas. Gide dizia esta noite (diante de mim): Valéry não é humano. Paul Valéry
Um belo dia, manhã, uma manhã cinza no dia de um homem, ele acorda. Os pensamentos são formados nas madrugadas, nos dias, no silêncio do sono. A sua formação não é uma enciclopédia, um compêndio, um quadro estático na parede sem cores nem relógios. O formato que se tem é que a vida é uma sucessão de acontecimentos, de teorias ao longo dos séculos.
Este homem atravessou parte do ocaso do século XX, vivendo intensamente as mudanças sofridas e impostas no Ocidente. O pensamento no mundo ocidental, uma parte viva do mundo, que está na Complexidade de Morin, já não serve mais como uma simples descrição de fenômenos, mas o é, também.
Nesse belo dia, o homem percebe que é o mesmo dessas alterações, que é parte de uma mesma coisa, de tudo no mundo. Não é a literatura; é a realidade esfacelando-se a partir do momento de cada manhã em que o homem coloca seus pés novamente no chão. As ideias sobrevivem, porque os homens as alimentam de novas roupas e novas informações, conforme as necessidades; os mesmos homens que as negaram tratarão de dar-lhes forma diante dos acontecimentos. É o contraditório também, é a ficção, é a pura linguagem de quem amanhece no limiar do tempo com o esquecimento.
As teorias sobrevivem porque os homens se espalham pela terra e, como diz Morin, o desconhecido não é apenas o mundo exterior e, sim, sobretudo, nós mesmos. As crenças nas verdades, na lógica ocidental, nos fatos e no Cotidiano da comunicação entre esse homem e todos pelo mundo afora e adentro, do Ocidente ao Oriente, da rua à casa, do real ao hiper-real, do conceito ao Imaginário, da linguagem à comunicação, e tudo na esfera do vivido, do jogo, permaneceu porque o visível passa do inteligível ao sensível e ao invisível. Apenas para lembrar Heidegger, que fala do “Ser” como a compreensão “indeterminada” e do mesmo modo “sumamente determinada”. Do homem que ao acordar personagem se dá conta de que ele compreende a palavra “imaginário” e com ela todas as derivações, as variações possíveis, ainda que essa compreensão pareça indeterminada.

Um comentário:

. fina flor . disse...

é querido, o estranhamento diante do fato de que algumas idéias ganham corpo e deixam de ser mera literatura às vezes assunta, noutras pesa, ou, ainda, delicia.

e siiiiim, estamos sempre dando novas roupagens às idéias outras.

beijos e boa semana

MM.

Passagens

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