domingo, 11 de novembro de 2007
Andaluzia
Foto: Sophie Calle
Ali está o corpo da mulher
Linda, se confunde com fragmentos de um poema,
Com os passos de uma bailarina.
As mãos gesticulam, as pernas contornam a alma.
O riso de Andaluzia percorre a sala em passadas na dança frenesi. Do açoite da chuva fria
A madrugada respinga no fogo que se mistura ao incenso.
Ali está a noite dos sonhos compartilhados
Entre loucos, tristezas, vozes sobre o nada.
Ali está o tecido da vida
Cobrindo as diferenças das desilusões,
Queimando o dorso da dança na pele
A faísca da voz como cello que se perde
Entre os olhares do vento que desnuda o vazio.
Ali está quem nos espia, fera solitária, foge da solidão.
Embebida no vinho que escorre corpo adentro
Feito esperma.
Ali está a mulher, linda, feito noites de Andaluzia
Percorre a sala em sua dança,
Corta o fogo e o silêncio falando da infância.
Com suas pernas de poesia silenciosa
Que decifram os olhos da chuva fria, ali está a mulher.
Ali está a noite dividindo o fogo,
Um pouco da solidão, o vinho entre dedos
Que mancha com as vozes, a fumaça do incenso.
Ali está os passos vagos como o riso
Que espia a precisão das palavras da poesia
Ali está o vento soturno
Dando trégua a todos que se cruzam em noites bêbadas.
Ali está o som, as quebras e as partes
Rasgando nossas vidas como facas
Que imolam as tristezas no sapateado
Da mulher que ali está.
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3 comentários:
aqui está o homem
com seu sentimento mais puro
e as palavras mais lindas
que o transfiguram....
grande beijo.
Um suspiro ao ler...
Que bem me faz essa poesia que invade.
Que faz a gente se teletransportar na delícia das palavras.
Bjs, Bom final de semana!
Por favor!
Ajuda a que se faça Justiça a Flávia. Se és um ser com sentimentos, ajuda!
Eu jamais invadirei teu blogue, garanto! Mas ajuda.
Repara bem: eu, tu, seja quem for, tem nosso pai, nossa mãe, nosso irmão ou irmã, ao longo de 10 anos em coma, que vida será a nossa?
Se não tivermos a solidariedade de alguém com sentimentos, que será de nós?
TEMPO SEM VENTO
Ah, maldito! Tempo,
Que me vais matando,
Com o tempo.
A mim, que não me vendi.
Se fosses como o vento,
Que vai passando,
Mas vendo,
Mostrava-te o que já vi.
Mas tu não queres ver,
Eu sei!
Contudo, vais ferindo
E remoendo,
Como quem sabe morder,
Mas ainda não acabei
Nem de ti estou fugindo,
Atrás dos que vão correndo.
Se é isso que tu queres,
Ir matando,
Escondendo e abafando,
Não fazendo como o vento:
Poder fazer e não veres
Aqueles que vais levando,
Mas a mim? Nem com o tempo!
David Santos
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