sábado, 15 de abril de 2023

Investigação das águas

     Cádiz
 

367) A imagem mental é a imagem que é descrita quando alguém descreve sua imaginação. (Wittgenstein)

 

Comer todas as palavras e certezas de palavras, vãos em muros, filamentos do tempo, a história, paixão e fome dos olhos, diafragma da alma, um escape de som, uma luz entre os corpos, um resto de palavras, o som quase silêncio entre o medo e a revelação, a fome do desejo nas paredes do tempo, e o corpo abundantemente dança em luz que suaviza os movimentos, o som perdido entre os livros, uma letra entre as letras, a formação de nuvens no outono, o céu se fecha, os olhos de sal, mareados, o instante final do esquecimento desaparece entre os restos dos dias, afasia da desrazão em águas profundas, um mar de realidade, um revestimento encobrindo a palavra, a claridade na luz do sol cortando o revestimento, o emergir. De volta. É como trazer as palavras e o corpo de volta à superfície.

E os braços em longos, demorados movimentos, chapinhar entre plantas submersas, mistura de cansaço e carpas passando rente a pele, próximo do fim, o dia, um nadar quase na escuridão do lago adormecido, um outono de esquecer o que já viveu. Sem salva-vidas, ler o livro, entre folhas úmidas, os braços no ritmo do nadadores que buscam a liberdade no ato, no primeiro capítulo da viagem sem lugar para acabar. A imagem mental do nadador é quando ele escreve sua liberdade, descreve nas braceadas, sua imaginação naquilo que se esgota, não acaba nunca, pois é velejador sem fim.

(123) “O problema filosófico tem a seguinte forma: ‘Não sei me orientar em meio a essas coisas’ “.


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