quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Cascas de sonho

                          By Nilson Lopes - Leitora urbana

 


 

“Nossos sentidos se desenvolveram de maneira diferente, e por isso precisamos usar a imaginação para ter uma vaga ideia do que acontece dentro das árvores.”
Peter Wohlleben

  

O coração teme, sobreleva-se, alcança a dor do pensamento. O exercício de dar vida e sentido às frases é a metáfora movendo o fora do lugar. A linguagem que gagueja, cresce em momentos de perplexidade, nos momentos da solidão se põe a fazer versos, à deriva.

Cria das histórias imaginárias, teorias no caminho, no andar em direção ao lado de lá, é este homem em páginas amarelecidas, em voz metalizada nas crostas de uma árvore secular. O melhor de tudo é quando o sonho é capturado logo no momento do acordar, anotações salvas, o sonho ganha uma vida. Meandros do inconsciente, tão real, um tipo de retomada de roteiro perdido. A adolescência está por trás da casca, no momento mais povoado do corpo, a solidão profunda adormece, acorda no sonhar de outro ontem.

Lá parado no tempo, toda juventude ainda suga seu vigor, passam próximo, adormecem no dorso quente deixado pelo sol da tarde, partem, noite a entrar como um sopro frio que vai dormir, que vai sonhar, que mais um dia morre na dor do que já amou. Bem cedo, conta as pratas a seus pés, bebe o sulco noturno, olha para o distante céu que jamais irá desaparecer, deixa novamente o sol bater em suas garras e folhas, rejuvenesce. Aguarda o dia todo passar devagar, no alto da sabedoria, sabe viver, despedidas são parte da troca de sonhos, como se novas folhas pudessem lhe dar a imortalidade.






 


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