sábado, 28 de abril de 2018

Nadantes

                                       Rio Douro 

“Universal como a violência e a morte, a dor nos iguala.”
Michel Serres

Milhões de pessoas em suas vidas, em casas, sós ou  acompanhadas, partidas, inteiras, felizes, tristes, por meio e metade de um tudo, e todos estão algures – lugar próximo deste mundo. Eu aqui, inteiro, em pedaços, parte do todo, nau perdida em sonhos, esperto para o amanhã. Fuga necessária para o outro lado do rio, braços e pernas aquecidos para entrar a nado e nado até o lado seguro da vida. Depois, então a me secar ao vento, de outro lugar, sem luzes difusas de restos e sobras do passado, feito no tempo que mete medo aos passantes. Passado e presente, entre roupas e dores alimentadas de promessas do outro lado de lá, do tempo que ficou marcado como se fosse dor de dente. Esquecido de tudo, estar prestes e se atirar nas águas que podem levá-lo longe, bem longe das verdades em compotas. A vida − depois de tudo − é um corpo que some a distância da ira dos que estão do lado de lá. No canto da boca existe um rio, a fuga, palavras, o que voa é o que fica no espaço entre o fim do olhar e o horizonte do pensamento.

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