sexta-feira, 30 de março de 2018

Niilista da Paz

                       Apocalipse - (1265-175) - Calouste Gulbenkian - Lisboa



"Atirou-se contra os espelhos, como uma alma-de-gato cega."
Severo Sarduy


Vida, ó vida das cidades, Aleppo, Rio, saídas para o sol,
ruas de fugas, outros perdidos, mortes em nome do Estado: evocam − Eu e Tu, alusão de um Deus.
Se morre, mata-se em nome do Tu,
o Eu mata em nome da Paz.
Tenho dificuldade racional de compreensão dessas mortes,
morro por dentro, torno-me Niilista da Paz:
vidas perdidas em nome das armas, cruz no céu,
a terra penetra na carne do Bem e do Mal.
Tenho medo do azedo e do doce apóstolo,
tenho ânsia de vômito à verdade absoluta dos seguidores.
Prefiro caminhar sozinho, lá outros hão de andar ao meu lado.
Eu e Tu, é para além de um deus, é a personificação do crer e não crer na imagem forjada pelos homens.
Jogos filosóficos, resta-nos a dor da miséria alheia,
a palavra do homem contra a indecisão na vida, são jogos de vida e morte.
A linguagem − dia sim dia não −, salva o diálogo da escuridão,
por vezes preciso do silêncio dos perdidos, dos ateus, dos crentes, dos que duvidam da ordem.
Todos unidos, na estrada do por vir, o horizonte é o céu cravado de violência seletiva, dos que matam em nome de um senhor.
Prefiro andar sozinho do que crer na razão para encontrar o paraíso, nem perder o sentido para encontrar Deus.  

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