“[...] mas só porque tínhamos de nos cingir aos fatos
não queria dizer que devíamos deixar de pensar ou não era permitido usarmos a
nossa imaginação...”
Paul Auster – 4 3 2 1
A
verdade é que quando escrevemos, digo, escrevo no impulso. A razão nunca abandonou-me,
exceto no momento em que tenha perdido totalmente a fé na lei sonhada pelos
homens, regida por uma onipotência, vontade acima dos homens, exceto, diante da
razão traiçoeira. A razão ou fé, pensei: a luz no fim do túnel, é a única que
me engana [...] Andei pensando em fazer uma saída do Rio Grande do sul, ou
seja, esquecer por lapso de tempo não compreendido, levar a bandeira da vitória
ou da derrota, pior, achar que se é na identidade que a alma deva ser
reconfortada...Me perco, estou à deriva. Os braços avançam pretensamente à
margem do nunca encontrado outro lado da paz. Um rio tem sua extensão de medo
e finitude. A existência requer mais do que braços longos e ágeis, precisa ter
técnica, unidade e fragmento a cortar o frio, a perfurar o peso volumoso das
águas.
Não
interessa a louca, a boca, a secura do tempo, do corpo, do lânguido ao úmido,
do torpe ao racional, do tiro no escuro à clareza das ideias. Sempre haverá um
meio termo do absoluto, uma tentativa de completude sem que se feche para a
escritura. Melhor seria não ter que prestar atenção aos determinantes. O acaso
é uma quebra de registro, um protocolo que deixa de impor verdades. Existe
razão nos descontínuos pensamentos. Há de existir bons sentimentos diante de
tanta desesperança, penso enquanto tomo meu último gole de água e perco-me nas
águas de um rio sem fim.
Menina Janela-por the Real Richard
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