sábado, 7 de janeiro de 2017

Um dia em Barthes




“Sem dúvida numa época de minha vida, atravessei uma fase que chamei de fantasia científica.”Roland Barthes


Barthes sugere-me “trapacear” para podermos ouvir a língua fora do Poder, mas isso é o que procuro no dia a dia, ou seja, ter as condições ideais de jogar com a linguagem. Ter as possibilidades de controlar aquilo que não podemos jamais atar, a produção individual e os sentidos. O resto é domínio. Mas aqui não estou mais nessa arqueologia. Saber quem domina quem é de menos na reflexão desta manhã, mas de saber o que foi feito dos domínios da razão. Em minha observância teórica e de suas aplicações, percebi que há indícios de um domínio desenfreado pelo culto da ciência, e que outras tentativas de domínio, seja pela espetacularização dos acontecimentos, seja pelas novas mitificações de sentidos vai longe, longe demais. Ainda bem. Como já dizia Cioran, “os caminhos da crueldade são diversos”, preciso de um pouco de complexidade para arejar as ideias. Ainda ontem, lembrei-me, certa vez, em plena disputa saudável de uma banca de doutorado, eu evocava no texto um conceito “trajetória antropológica”, fui picado pela vespa da racionalidade acadêmica, fui indiciado por usar conceitos ao léu. Fiquei entre o espaço literário de Blanchot ao ritual daquela cena. Passou. Não me desfiz da trajetória e os caminhos da complexidade me ajudaram na compreensão de muita coisa. A saber, o prazer em voltar a textos clássicos que me faziam sentir excluído do próprio texto. O prazer da leitura, é certo, percorre disciplina, compreensão e dialogia com os textos, com as vozes.




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