“Sem dúvida numa época de minha vida, atravessei uma fase que chamei de fantasia científica.”Roland Barthes
Barthes sugere-me “trapacear”
para podermos ouvir a língua fora do Poder, mas isso é o que procuro no dia a
dia, ou seja, ter as condições ideais de jogar com a linguagem. Ter as
possibilidades de controlar aquilo que não podemos jamais atar, a produção
individual e os sentidos. O resto é domínio. Mas aqui não estou mais nessa
arqueologia. Saber quem domina quem é de menos na reflexão desta manhã, mas de
saber o que foi feito dos domínios da razão. Em minha observância teórica e de
suas aplicações, percebi que há indícios de um domínio desenfreado pelo culto
da ciência, e que outras tentativas de domínio, seja pela espetacularização dos
acontecimentos, seja pelas novas mitificações de sentidos vai longe, longe
demais. Ainda bem. Como já dizia Cioran, “os caminhos da crueldade são
diversos”, preciso de um pouco de complexidade para arejar as ideias. Ainda
ontem, lembrei-me, certa vez, em plena disputa saudável de uma banca de
doutorado, eu evocava no texto um conceito “trajetória antropológica”, fui
picado pela vespa da racionalidade acadêmica, fui indiciado por usar conceitos
ao léu. Fiquei entre o espaço literário de Blanchot ao ritual daquela cena.
Passou. Não me desfiz da trajetória e os caminhos da complexidade me ajudaram
na compreensão de muita coisa. A saber, o prazer em voltar a textos clássicos
que me faziam sentir excluído do próprio texto. O prazer da leitura, é certo,
percorre disciplina, compreensão e dialogia com os textos, com as vozes.
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