terça-feira, 29 de abril de 2014

Erótica



“E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver!”
Pedro Kilkerry
Morro de medo de não te ver gozando em meus olhos,
Morro e mato o medo por não tê-la mais,
Se fosse um inseto viajaria em teu sexo,
Dormiria em ti, dividiria teu prazer,
Rasgaria tuas roupas,
Envenenaria teus e-mails,
Amaria teu mijo, morderia teu clitóris.

Se fosse o fim do mundo,
Morreria em tuas pernas.
Morro de medo em não te ver mais em minha porta.
Pernas nos vitrais,
Riso chapado em meus sonhos.
A boca engolindo tudo, enlouquecida aos viralatas da cidade.
E eu a morder a cartilagem de tua vida.

O prazer é seu, o gozo é meu, a dor é de nós dois.

sábado, 12 de abril de 2014

Estações da Vida



“Pois não há mais tempo. E é o fim do tempo que começa.”
Paul Auster



O que nos faz viver, o que nos renasce de dia e nos escurece durante a noite? O que é esse mistério que se intromete na vida, nas pessoas comuns, o que é essa névoa que vem durante as manhãs de outono e some no sol dos dias de uma cidade pequena? Um sol que corre do horizonte e passa por cima de casas, de praças, que fecha os bares noturnos e adormece os notívagos?
Acordei agora nesse sobressalto, a pensar na vida, nos irmãos, nos que ficam, nos que estão partindo, é como o trem que está a dar o sinal de partida na plataforma da estação. Nas lágrimas dos velhos que ficam, dos filhos que partem e uma gota de vida escorre entre os dedos dos pés descalços que atravessam a Praça Nova, que no ritmo dos sons da terra, do uivo dos cachorros e no riso das putas, avança rumo a um mundo novo.
O que nos faz viver é como a música eterna, pagã, sagrada e finita das estações, é por onde a vida passa e o sonho do irmão segue tranquilo ao outro lado do rio de volta para casa.
 


Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...