By Mat Hennek
O
contraste entre o livro e o homem, entre o que é preconcebido e o que é dado
pela natureza, entre a tangibilidade do livro e a incompreensibilidade do ser
humano [...]
Elias
Canetti
Eu
não escrevo para leitores, escrevo porque leio o escrito do Outro. Ler o
necessário é alimento, também, ler o que se consome na interpretação e o que se
perde simplesmente no consumo diário. O cotidiano mata o leitor com tantos
tiros possíveis que nem o mais sagaz testemunha consegue vivenciar essa perda
sem se tornar agressivo. A agressividade remete-me à leitura.
Ler
é ouvir a linguagem em sua simplicidade de signos. Não existe contradição neste
pensamento. Não existe negação ao leitor, apenas decepção. Caso tenha sido a
leitura perdida pelo lado mais significativo, a linguagem que não encontra
espaço, este é um problema interno da ordem do esquecimento: o texto morrerá na
última linha.
Pouco
importa. Existe um confessional, uma reza pagã à transcriação, ao entrar na
linguagem e não sair ileso de sua força. O que vem como força destruidora e
impulsiona à transformação do ler e escrever é o que está próximo e distante.
Paradoxos. Um tipo de revolta da vida sobre todas as coisas. O interno do Eu. O
que se manifesta é dentre todas as certezas, não sair ileso.
O
jogo das verdades absolutas com a dúvida é a única possibilidade de chegar ao
texto sem a carga do irracionalismo acometido pelo esgotamento do pensamento
moderno. Produção de sentidos. Ser convicto da verdade é o que leva à morte, mais
cedo ou mais tarde, a outra via irracional contra o legado racional. O modo
mais fácil é encontrar a redenção nas coisas que se assenta aos olhos ávidos
por uma certeza. Vale para o dois lados.
Atualmente
uma certeza, eliminar o Outro, o estrangeiro do pensamento nos localismos no
cotidiano simplificador.
Nunca
sei se penso porque quero compreender ou penso porque quero a distinção deste
pensamento.
Ir
a três fontes desta reflexão: Alteridade – Diversidade – Diferença
Da
alteridade à diferença, o tempo que vivemos é o mesmo que torna igual a si
mesmo, a reflexão do mesmo, o que rechaça vem do interior. A estranheza que vem
de fora. A alteridade é sufocada por seu ponto finito alcançado na diferença. É
como pensar que a noite é “o outro do dia”, diria Jean Baudrillard.
Na
diversidade é que repousa a possibilidade pensamento em ver no Outro não sua
mesma resposta, não existe o pensar único na Alteridade, a menos que a
negatividade seja substituída pelo excesso de forças pró-ativas em nome de uma
diferença esvaziada pelo positivo das coisas.
O
que Heidegger via no igual, o contraponto do Ser ao mesmo.
O
mesmo na diversidade, em jogos em que a língua afiada permanece no ponto de
partida além do binário pensar.
Se
a diferença é o tornar-se estranho, a propriedade do Ser estará na mão de mãos de um único. Ainda bem que isso é especulação de um ensaio sem saída. O excesso dele
mesmo, o não fragmento, mas na unidade expansiva, na mesmice do rechaçar por
ser tão somente já por demais a mesma coisa, se escapa para a diferença, o elo
entre o Consumo e o ser Consumido em si.
A
ontologia prescinde tudo, mas não o todo, o mesmo dilema filosófico é que
talvez escape aos olhos e aos pensantes atentos.