domingo, 26 de agosto de 2018

Invisibilidade

     By Pancetti - Marinha - Saquarema - 1955.

Ninguém sente, nem olha, a frente é que se pressente,
A imagem distante fica de frente, o tempo que existe,
A lente que perfura o coração exausto, batimentos da vida.
O que nem todos percebem é que o tempo é um tanto diferente.
Ele, sem as rédeas humanas, é o pêndulo dos poetas,
Torna invisível tudo que ata, entre nós, a âncora estende a vida,
Do barco, o mesmo fluxo dos trajetos,
O desconhecido é que está atrás da sincronia do tempo.
E ninguém olha mais por dentro, está tudo do lado de fora,
Em frente, a imagem segue reunindo fome de signos,
Milhões de gente, e nem tudo é vida.
Às vezes mata por não aceitar o Outro.
Ninguém diz mais que a verdade depende da vida,
A vida é um coração frágil.
Nem tudo é visível, o que se alimenta da razão que inventa,
É o real que vira semente do imaginado.  
Nem todo bem é o todo que é, parece ser diferente,
Melhor é a invisibilidade sincronizada do Ser que se refugia no tempo.
Nem toda noite é escura, nem todo dia é dia.
Toda semente há de viver além das forças das mãos que envenenam,
Da água que seca, o fogo que avança e mata mais a frente.
Nem tudo é dor por doer, tem a morte que dribla a vida,
É da vida, esquecer um pouco do fim sem tempo certo para acabar.

“A invisibilidade [...] dá à pessoa uma noção ligeiramente diferente do tempo.” Ralph Ellison






domingo, 12 de agosto de 2018

Devorador de rosas

     By Bedframe De Livros


“O que é primeiro não é a plenitude do ser, é a fenda e a fissura, a erosão e o dilaceramento, a intermitência e a privação corrosiva.”

Maurice Blanchot



Rosa roseira, escravo dos espinhos, o homem tira o véu da cabeça, deixa à amostra sua identidade, não teme os olhos, nem o odor dos dias tristes. Acorda entre livros, dorme entre sonho e medo, descobre os caminhos do imaginado. 

Manhã de mate:
Matinal, noturno de olhos ensebados, guarda-ressaca.
Manhã de sol:
Livro aberto, o que cata tela de música, linguagem dos sentimentos diria Thomas de Quincey do futuro.
Impressão digital na fronte, mágoa de domingo,
rio que desce, corre o céu, prédio de janelas escancaradas, seios no parapeito, beleza diante da câmara, olhos negros,
riso lúdico, mãos nos cabelos, o teu corpo é uma flor do presente. 
Tarde cinza:
O escavador de sonhos, vive em busca do pensamento, o ato de pensar ainda não começou a pensar, e Artaud jamais esqueceu as perdas do viver


A verdade é que me coloco a uma distância de quinze a vinte anos à frente deste tempo.”

Thomas de Quincey


*(Reler, texto de agosto de 2013, o texto movente no tempo.)


  


Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...