Claude Cahun - 1928
“O inelutável não tem a inumanidade do fatal, mas a
seriedade severa da bondade.”
Emannuel Levinas
Dentro
de mim mora um Eu, um desconhecido fragmento do Outro lado do Ser. Se isso não
bastasse, dentro de mim a energia que existe é que move meu pensar, não a
energia que faz com que eu tenha todo conhecimento, pois ela não existe dentro do
mundo, ou melhor, fora de mim. Um exemplo prático do cotidiano ilustra este
exercício: dois dias atrás, em atividade, andei dizendo breves palavras ao
público, o evento exigia esse ato de falar, meu discurso era simples,
apresentar aos presentes o trabalho que realizei e que ajudei a acontecer,
desfiz-me de toda carga do dia a dia e expus aos outros o trabalho de forma a
apresentar o lado autoral aos seus leitores.
Bem,
a partir dali, fechei um ponto que estava dentro, lá guardado do Eu, melhor, do
que imagino ser parte dele, mas que só se torna realizável no acontecimento.
Mais
tarde voltei ao meu Eu material, a redenção do corpo, o guardião do rosto, de
cara viajei ao texto, a Emmanuel Levinas, onde o rosto corta o sensível e
desnuda o lado adormecido da razão. Bati na minha própria porta do Ser, passei
por cima das nuances filosóficas, sentei, peguei dois livros que estão surrados,
mas pelo tempo de convívio comigo, entrei mundo adentro da questão mais difícil
de ser conclusiva, pois dela, o que dela se faz existir está para além do Eu,
está do lado de fora, a Ética.
Quando
terminava algo, no passado, sentia, logo depois, o vazio a se instalar no corpo,
como as pessoas se sentem quando acaba um grande evento, quando termina toda a
energia naquilo que une e inevitavelmente irá mais adiante ter o fechamento.
Aprendi
muito com o fim de tudo, aprendi mais com a solidão noturna, pois ali, depois
de uma leitura, de um vinho, um café, um filme, talvez, o descanso para acordar
antes mesmo do meu Eu. O corpo está neste imediato contato com a realidade, o
Rosto, o de Levinas, está presente no meu cotidiano. Bem, daí vêm os afazeres
para acordar o resto, cada um com seu mantra, diria outra pessoa. É e não é,
porque para pensar “é preciso estar atento e forte” e
enfrentar a única responsabilidade suprema que existe ao que está dentro, ir
para o lado de fora com suas armas, desprovido do medo, ir à luta.