“Tudo o que se movia nele ainda jazia em
trevas, embora já sentisse o desejo de contemplar em meio à escuridão coisas
que os outros não percebiam.”
Robert Musil
A maldição nunca vem
sozinha. Vem acompanhada do verme deixado pela Vida em algum canto deste país.
Nesta cidade o fenômeno do verme é que ele, midiático, como seu ar de
“estuprador do espírito”, observa o cenário em ruínas desmoronar-se no
esquecimento. Decadência. Diante de uma obra que foi criada para identificar
como verdadeira, certos feitos, pensamentos monopolizam e naturaliza a verdade
midiática de um só Dono: o verme onipresente. Por ser a excrescência da
realidade, de uma sociedade que se ilude com o passado imposto, a cultura da
terra nem sempre é orgânica, raiz é a invenção do poder.
Um dia percebi que o silêncio do verme era
sua arma para fazer com que o Outro fosse esquecido. Que o Outro morresse em
seu próprio mundo, como se existisse mundos distintos, era preciso saber que um
lado era nulo e, portando, devia ser esquecido de uma vez para todo o sempre. Assim,
a exclusão e não existência faz parte de um falso cotidiano, o mundo dos
iludidos é a vida que não cabe no bom convívio social.
Desci ao inferno, à terra, conheci os
meandros do local, da profundeza, os rastros da superfície e do silêncio
estratégico feito pelos vermes diante do diferente pensar, o que se valoriza
como humano, demasiado humano. Voltei à realidade, com uma única arma, o
silêncio salvou a ilusão. A razão não precisa estar do lado do verme para ser
autêntica, não precisa ganhar nenhum prêmio para sobreviver entre os vermes e a
Cidade. Pensei patentear o método do silêncio como antídoto, depois, a pessoa
era só fazer terapia para não cair no lodo dos vermes. Criar um método de
terapia através do esquecimento silencioso, poria dúvida no futuro, o mal dela
nasceria, então, salvar algumas pessoas a não perder suas almas, em se deixar
transforma-se em vermes, virou uma solução apenas do ato reflexivo.
O método não é invenção minha, está na
natureza, serve a todos. Então, contra os vermes midiáticos, todos que se
sintam injustiçados, qualquer tipo de exclusão... Usem o Silêncio e o
esquecimento. É uma filosofia de vida, matá-los dentro de nosso possível ódio,
depois deixar o tempo passar, e sem que percebamos − eles extintos − existirão
apenas na cabeça do verme. O mal existe, estamos emergindo do silêncio e como
Musil escreveu em O jovem Törless “A
história nos ensina que só existe um caminho para isso: o mergulho em si
mesmo.”