Paris - Shakespeare and Company
“Deus tem em
jogo sua existência nessa morte livre que um homem resoluto se dá.”
Maurice Blanchot
Existe uma literatura na
cabeça, melhor existem literaturas em cabeças pensantes, em cabeças
mercantilistas, em cabeças afetadas, e o melhor, em cabeças utópicas. Utopia
nos dias de hoje parece mais um livro obsoleto, um livro de pouco interesse de
mercado. Quando bate a crise, o livro é o primeiro a cair no esquecimento.
Esses dias uma pessoa me falou que a crise é de todos, mas poucos conseguem
morrer nela, conscientes de suas ideias, de suas utopias. Fiquei com esse pensamento
durante dias, do início ao fim da badalada Flip (em Paraty/RJ), a mesma que
prestigia a cultura, que nomeia os melhores, que busca divulgar nossa produção.
Tantas coisas que já não
consigo lembrar por falta de interesse em ter essas iniciativas como
verdadeiras representantes de nossa cultura. Sei, a Flip, as bienais do Rio de
Janeiro e de São Paulo perderam seu brilho. A mídia há muito cometeu o crime, o
tiro certeiro no coração da literatura. Não contente com a obscuridade de suas
críticas, ainda por cima resolveu ser o olho mágico para ver o novo. Essa
imagem, pura poeira, legitimou o texto e o interesse de comprovar que a autoria
matou a criação. O autor predestinado nasceu do que foi plantado por agentes
deste interesse, de algo maior que legitimasse uma literatura.
Ou seja, primeiro era
preciso fazer com que o aprendiz de escritor se tornasse um escritor a partir
dos ensinamentos de especialistas. Aí, Ferrou!.
Todo mundo escreve. Todos
silenciam em relação a isso quando o resultado é nulo. Neste crime não existe
culpado, existe cúmplice. Não vou deslegitimar 30 anos de crime, melhor, não
vou denunciar, não nasci para ser representante de um poder oculto. Constato: o
que está morto, está agonizando no vazio de leitores e na falta de uma literatura
menos credenciada por especialistas.
“A arte parece então o silêncio do mundo, o silêncio ou
a neutralização do que há de usual e de atual no mundo, tal como a imagem é a
ausência do objeto.”
Maurice Blanchot