terça-feira, 29 de setembro de 2015

Coração tecno

     Imagem: Igor Morski

“Quando eu fico, como hoje, mexendo nesses velhos cartões-postais, percebo que de repente tudo se misturou, se confundiu.”
Danilo Kiš


Nunca diga não a tecnologia de seu coração. Não se assuste, o coração é o mesmo; acontece que ele e a tecnologia não viveriam longe um do outro. Sucumbiriam na mesmice do nascer, crescer e morrer. A metáfora ‒ coração ‒ é aqui a força do texto, o lúdico do pensar é apenas a carga para o movimento, o batimento é como os dedos que percorrem o resto da imaginação sem pressa de terminar sua exploração. A poética diz ser: o coração é a precisão mais perfeita do viver, o bater, o pulsar das incertezas. Mesmo assim, o coração é como a tecnologia para o corpo que precisa ir adiante dos dias, além do tempo, mergulhar nas possibilidades do que nos abastece a vida, no ritmo de cada um, outros pulsam, vivem de forma diferente. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Atira-te ao Rio


“Os panoramas, que anunciam uma revolução nas relações da arte com a técnica, são ao mesmo tempo expressão de um novo sentimento de vida.”
Walter Benjamin



Poucas músicas são como poucos olhos a ser visto na distância dos olhos. Ocultos, bem próximo da memória, minha mão acompanha o pensar, a curva do olhar dobra o velho porto abandonado. Então, eu estava a olhar o outro lado das coisas, estava a caminho do rio, passei por bares, mistura de sons, a alegoria das cores que vinha do rio, a conversa dos olhos, o sentido da música, o fim da rua. Estava à beira do Tejo. O fundo do rio surgia uma mesa na passagem do passado ao presente, um bar, o som perdido no vento brando das águas no ritmo contrário da cidade. As pessoas de um lado ao outro vinham ao mesmo tempo de onde estava olhar, a construção dos olhos é como um barco que aporta no velho cais. Algo que procurei, um som que não escutava, desde um tempo não tão longe dos olhos mas longe do sentir, a memória não deu trégua, veio com tudo, trouxe o som com a força da correnteza. Estava ali, os pés voltado ao Tejo. 



Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...