quinta-feira, 23 de abril de 2015

Nascimento do Poeta

                                     Janela -Museu do Picasso - Paris - 2015



A mãe vem com a lanterna entre as pernas,
Depois virá o pai
Pensando que a obra é sua.
(2007)

sábado, 18 de abril de 2015

Memória

                         Paul Klee - Máquina de Chilrear - 1922.


“Tom é palavra que presta serviços a mais de uma arte.”
Herbert Read

Eu sou antigo, muito antigo, quase uma pintura paleolítica,
Uma imagem na pedra, bosquímane da África do Sul,
Eu sou muito antigo, só não envelheci o suficiente,
Eu sou tão antigo, existo antes do indivíduo, sou parte do coletivo.
Atravessei os tempos, sou milenar, sou o risco da arte pagã,
Vim de longe, sou de todos os lugares eu hoje só a memória pode falar.
Vim do retrato, escalei o adorno da história, morri muitas vezes,
Sou um traço tão antigo, as rugas não conseguem mostrar os tempos existentes em minha carcaça de bronze.
Sou mais antigo que o sentido das coisas, dentro de mim existe o tempo, existe uma máquina de som cromático.
O Outro, a curva do olhar que se perde na abstração da forma, sou mais antigo do que isso, o pólen das estações.
O Outro, o que existe é único – do primitivo não vivi mais do que vivo hoje,
Envelheço nos conceitos, nas cores e nos dias.
Sou muito antigo.



sexta-feira, 10 de abril de 2015

Ler o passado



Estava eu, aqui perdido, estava eu na minha infância
Perdido, perdido nos livros, em livros.
Estava eu na minha infância, perdido, perdido
E os livros, são os mesmos caminhos,
da minha vida, encontrei eles em sonho,
que perdidos eu os li no mundo que inventei,
o que era meu era de outros.
Nunca nos vimos,
nos reconhecemos em livros, só em livros.
Perdidos, estava eu,  
Todos perdidos nos livros,
Ver era viver ‒ Ler!
Me via nos lugares mais distantes.
Estava eu, aqui em minha sala, perdido, perdido.
Na vida, na infância encontrei todos, hoje todos moram
Em livros.
Minha vida perdida em livros,
Envelheço em lidos mais vividos.
Se pudesse ler o passado, certamente eu o leria, 
em livros, Perdidos.
                                              

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Filosofar sobre o lance de dados

     Montez Magno- Da Série Um lance de dados, 1973


“Os pontos singulares estão sobre o dado; as questões são os próprios dados; o imperativo é o lançar.”
Gilles Deleuze


O que é a sorte grande? Essa é a indagação que me faço já um bom tempo, talvez desde minha tenra idade em apostar na vida venho à busca de um método. Claro, a vida é mais complexa se olharmos do ponto de vista existencial mas nada se compara ao imbricado mundo da sorte no jogo. Digo, o “jogo de azar”, o jogo de apostar em números, em apostar na intenção de ganhar algo. Esse algo pode ser acumulativo, pode ser o princípio do prazer e como alguns preferem que seja, a perdição de uma vida.  Chegam até profetizar, exorcizar sobre o tema, eu diria, quanto mais sorte se tem menos se ganha em qualquer coisa, até porque não sei o que é ter sorte, mesmo no ato de jogar ela vem de forma do acaso.

É um impulso que me leva a apostar em algo. Penso que o ato de escolha dos números é algo que se perde no infinito combinatório dos números, isso no plano de consciência do jogador. O jogador acha que está fazendo combinações, mas ao fim, se ele for mesmo vasculhar seu arquivo da memória encontrará centenas de vezes a combinação se repetir. Creio que o jogador tem medo do infinito, como também, do outro lado do pensar, tem medo da morte. Se nada existir, aí o jogador se ferra de vez. Por isso, inconscientemente ou não, um dia ele acaba se repetindo. O jogo já faz parte da vida do jogador assim como da vida do não jogador, daquele que abomina o jogo por achar que é jogar fora suas energias em algo que não lhe trará nada compensatório. Para o Bem ou para o Mal, o jogador, é uma espécie de crente que já não acredita mais em nada, e apenas os números podem lhe dar alento. O não jogador, esse olha de longe, mas quando vê um jogo de alta cifra no painel que diz ‒ aqui é a sua chance de se arrumar na vida ‒ é o momento de que nadar é não mais morrer na praia, lá vai ele apostar, entre milhões, querer colocar no bolso os milhões do “azar”. É nesse momento que o não jogador entra no páreo... se triplicam até as últimas possibilidades de jogar. Todos jogam...Quem será o ganhador? Não sei, só gosto de apostar e filosofar sobre a vida e o jogo. A morte é o fim do jogo. Como é bom driblar os imperativos.

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...