domingo, 27 de junho de 2010

Fado das Línguas

John Ruskin


Minha boca seu entrave
E logo, oca, língua adentro
Perfura a vida de alegria
E saliva a dor com fantasias
Depois de calma, retoma a vida.

Toda noite tem a boca
Escancara a impertinência. Grita!
Sem dor, perfura o gelo, o frio é o passado,
E logo vem teus lábios dizê-lo, afastar da vida,
Um presente que não lhe diz respeito. O passado!

Toda manhã vem teu hálito,
Abre um sorriso feito geada que derrete,
Meus lábios não passam mais em tua vida,
O passado ficou nas histórias sem memória,
Um inverno nos corta, um beijo, um rio. Alentejo!

Toda vida um vidro que transparece,
Embaça tua língua que se volta ao vento,
O sorriso que espera o sol abrir as mãos premiadas. A vida!

domingo, 6 de junho de 2010

Meu Castelo




Fora dos olhos que não são teus, e tudo é lido por todos. Agora as imagens são lidas por todos e tudo, protesto, e mais do que isso, é você queimando sem ser uma bandeira, logo você que morou ao lado meu, lida com as mãos e olhos, agora consumida, desespero na leitura, a vida em vão, se afasta do meu castelo... Some dos olhos guardiães, cinza de fogo dos outros, dos inimigos de Altaforte que se refugiaram no mato antes de invadir minha fortaleza.


"Bertrans, mestre de arte,
Bertrans de Altaforte irá louvar-te
E ainda que bem me querias mal
Ainda que me desejes mil
Males afinal,
Audiart, Audiart,
Levará meu sinal,
Audiart,..."
(Ezra Pound - Na Audiart - Tradução de Augusto de Campos)

sábado, 5 de junho de 2010

A gata de Anne


Gata de Anne -Saint Malo


Atrocidade é palavra bem-acabada, palavra bendita depois de ser dita é jogada às feras e se não for proferida é palavra calada, morta, depois de nascida foi palavra criada, e depois de tudo foi enterrada em terra alheia, em vida teve sorte, jogou e perdeu, ganhou na hora certa de fechar a casa e partir para outra boca. A boca desaforada da palavra é vida de outro poeta que profere e diz:
- Agora sou eu mesmo, com a palavra minha e de vocês que não entendem nada.Nada é dada por todos, mas me leem que eu sou uma palavra de reverso e controverso.

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...