quinta-feira, 21 de abril de 2016

O segredo





“A um ele confia uma coisa e confia outra coisa a outro, certificando-se de que eles jamais irão comunicar-se entre si.”
Elias Canetti


Vivemos num mundo onde o segredo deixou de existir, em que tudo o que é pensado, antecipadamente, já é sabido. O segredo é o lugar em que o indivíduo se submete à verdade daquele que sabe calar. Nas ditaduras o segredo é a vitalidade dos que sabem mandar, e principalmente dos que temem por algo que foge do seu controle. As massas alardeiam, o poder consente o seu silêncio em fúria. O poder mata o Outro com seu segredo, a massa divulga e joga o corpo aos leões. Todo segredo pode ser para o Bem e para o Mal.

O calar dos que recebem ordens é fruto do bom entendimento entre o que sabe mandar e o que sabe seguir as regras de forma ordeira. Esse fantasma jamais deixou de existir. As ditaduras de Direita e de Esquerda são o espelho dos que entendem o calar. Canetti demonstrou que o mais profundo dos segredos “é o que se desenvolve no interior do corpo”. Por estas bandas o que mais se sente no ar é o palavrório dos que falam e falam, mas calam quando deveriam se manifestar. Todo homem que fala demais é certamente o que tem a informação em seu excesso. O certo era ter um pouco de desconfiança, mas todo que demais se cala, deveríamos suspeitar ainda mais. Canetti observou que o segredo dos que calam é a certeza de sua sábia dedicação e inteligência de guardar o segredo dos poderosos, do outro lado, os que falam demais, também, podem estar entregando o ouro aos silenciosos donos do Poder.

O segredo, aquele que detém o poder sob o seu comando, consegue municiar o presente, ele mesmo é o que mais sabe preservar o segredo. Ao mesmo tempo, que tem o controle sobre o segredo, ele não consegue na sua amplidão ter o controle dos segredos existentes no tecido social. O ato de dissimular é propriedade de poucos que sabem manter o sigilo do seu lado. Aliados do silêncio, seus propósitos nunca deixam que o seu segredo se iguale aos demais, pois ele, o que controla, sabe medir o quanto o segredo que detém é preponderante ao imaginário social. 
Imagem: Parque Güell - Barcelona

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