“A um ele confia uma coisa e confia outra coisa a
outro, certificando-se de que eles jamais irão comunicar-se entre si.”
Elias Canetti
Vivemos num mundo onde o segredo deixou de existir, em
que tudo o que é pensado, antecipadamente, já é sabido. O segredo é o lugar em
que o indivíduo se submete à verdade daquele que sabe calar. Nas ditaduras o
segredo é a vitalidade dos que sabem mandar, e principalmente dos que temem por
algo que foge do seu controle. As massas alardeiam, o poder consente o seu
silêncio em fúria. O poder mata o Outro com seu segredo, a massa divulga e joga
o corpo aos leões. Todo segredo pode ser para o Bem e para o Mal.
O calar dos que recebem ordens é fruto do bom
entendimento entre o que sabe mandar e o que sabe seguir as regras de forma
ordeira. Esse fantasma jamais deixou de existir. As ditaduras de Direita e de
Esquerda são o espelho dos que entendem o calar. Canetti demonstrou que o mais
profundo dos segredos “é o que se desenvolve no interior do corpo”. Por estas
bandas o que mais se sente no ar é o palavrório dos que falam e falam, mas
calam quando deveriam se manifestar. Todo homem que fala demais é certamente o
que tem a informação em seu excesso. O certo era ter um pouco de desconfiança,
mas todo que demais se cala, deveríamos suspeitar ainda mais. Canetti observou
que o segredo dos que calam é a certeza de sua sábia dedicação e inteligência
de guardar o segredo dos poderosos, do outro lado, os que falam demais, também,
podem estar entregando o ouro aos silenciosos donos do Poder.
O segredo, aquele que detém o poder sob o seu comando,
consegue municiar o presente, ele mesmo é o que mais sabe preservar o segredo.
Ao mesmo tempo, que tem o controle sobre o segredo, ele não consegue na sua
amplidão ter o controle dos segredos existentes no tecido social. O ato de
dissimular é propriedade de poucos que sabem manter o sigilo do seu lado. Aliados
do silêncio, seus propósitos nunca deixam que o seu segredo se iguale aos
demais, pois ele, o que controla, sabe medir o quanto o segredo que detém é
preponderante ao imaginário social.
Imagem: Parque Güell - Barcelona
Imagem: Parque Güell - Barcelona
Nenhum comentário:
Postar um comentário