Madri
“Mas
não tenho nenhuma certeza de que o porvir de vocês coexistia assim com o seu
presente.”
Henri
Bergson
A ordem é a desordem. Havia um tempo que a desordem era
o momento em que as coisas começavam a tomar um ponto a seguir, que as direções
se distribuíam conforme os seguimentos da existência pediam passagem. Hoje, o
caos não é mais dessa proposição, ou seja, a expressão verbal dos conceitos
deixa de ter legitimidade diante dos fatos que atropelam o uso da linguagem. Se
o juízo de algo é mais do que uma verdade, se ele passa a ser um acontecimento
destruidor, a proposição do que estou aqui a pensar não tem importância alguma
de sua veracidade de enunciado.
Esse pequeno esforço recreativo, quase um jogo do
pensamento, é porque ando a refletir sobre os efeitos benéficos e maléficos das
Verdades seculares, sejam elas de ordem das ideias, dos grandes movimentos e
correntes do pensamento, ou da heresia quase suicida de afrontar ao uso
analítico de conceituar tudo através da linguagem (velho truque de determinar a
veracidade dos acontecimentos) através de um exercício lógico de ver o Real.
É uma pena, esse lance de dados não é o único, isso
se tornou inócuo no momento, já vai mais de 30 anos que Jean Baudrillard
desfolhou a malmequer, dissecou os eventos na crítica do simbólico e do lógico
como se eles dessem conta de tudo e diante de uma explosão poderiam deixar de
ter sua eficácia, ou de que a linguagem nada mais era do que um recurso para
interpretar, e que os homens convencionaram como o núcleo duro das ideias até
esgotar o seu repertório.
Voltamos ao centro da Terra, ao centro da Vida, onde
o estômago do pensamento regurgita, onde tudo se liga, até o mais absurdo do
niilismo se dedica a pensar o que fazer da existência se seu pensamento parar
de pensar, é o vão da porta onde toda espécie de luz adentra ou esvazia o que
vem do interior para o fora do lugar. Do centro, as forças da destruição
movidas por ideias esculpidas, seja pelo sentimento de um deus, pela adesão à
salvação da unidade da vida, desse lugar, todos os outros sobreviventes das
ameaças poderão reunir os cacos da modernidade, das religiosidades, das
verdades e das ciências. Assim, o pensamento não abrirá mão do olhar cético,
esse ar pós-monista que ilumina tal qual o idealismo do olhar realista. A
entropia é parte do que restou da unidade, então, me volto para a calêndula: o
bem-me-quer da Vida