“Nada mais fácil do que dizer o eu é multiplicidade ou
que é unidade ou que é a síntese de ambas.”
Henri Bergson
Nada mais fácil do que
viver em meu espaço, nele consigo refazer a casa do pensar. Digo que é um
espaço livre, absoluto, de todas as imposições de ordem moral... por que da
moral, se não estou aqui me refazendo do mundo totalitário das coisas? Apenas
aqui, é o espaço do pensar. Estou a dedilhar o acontecimento, o mundo dentro do
mundo, o fora do mundo, o mito de viver bem, o mito da solidão etc. No meu
espaço, convivo com os sonhos, as maquinações desse pensar, as tentativas de
inventar o menor espaço possível para escapar com a palavra, atravessar a imaginação
de mundos possíveis. É óbvio, a razão diria, isso é um monstro. Não quero meus
sonhos em companhia da sensatez, prefiro a música, o pensamento, o livro que
invade o tempo dos contrários. A contramão das ideias pode tudo mas não
corrompe as pontas do pensar nesse meu espaço que bifurca em ruas do século
XXI. O movente é a razão metafísica que me joga ao externo, ao desconhecido
jogo de linguagem.
“As ruas são a morada do coletivo. O coletivo é um ser
eternamente desperto, eternamente agitado que vivencia, experimenta, reconhece
e imagina tantas coisas entre as fachadas quanto os indivíduos no abrigo de
suas quatro paredes.” (Passagens, p. 958 –
Walter Benjamin)