domingo, 16 de março de 2014

Viagem – Tempo – Simbolismo

















"O mundo como palco, à espera que encenemos o drama importante e triste, cômico e insignificante de nossas fantasias. Como é comovente e charmosa essa ideia! E como é inevitável!”   Peter Bieri 



O dia que lembrei do passado sem estar dentro dele, sem estar morto de medo dentro de uma caixa cinza, de uma cor ofuscante, nivelada com a dor dos olhos que não brilham, porém, a dor do tempo não interferiu em nada para os meus olhos. Vi o mundo dentro do meu mundo, vi as cores em todas as estações do meu mundo, mas vi que nada poderia ir adiante se eu não rompesse com o cotidiano vivido, a minha vida tinha que mudar totalmente, esquecer aquele tempo, aquela cidade. Tudo não tem um fim delimitado, mesmo que o fim se mostre presente diante dos olhos sem saídas, os caminhos existem para o escape, seja por trilhos, seja no mar, o fundo azul é um horizonte onde estão as cores.
Paul Gauguin viajou pelo mundo pelo amor a sua arte, eu viajo para fugir da arte localista do coração. Não é fuga, é desprendimento, é romper cada dia com o presente, é refundar a vida no presente. Estar imerso na vida e olhar a profundidade com os olhos bem atentos. O passado é pesado demais para se levar na bagagem mas não se rompe do coração. Não tenho como partir o corpo, a alma e nem retalhar meus sentimentos para só viver o mundo como se fosse um pássaro que voa o mundo, ou uma falua que se move com a força dos braços de fugitivos em águas claras. Não há como fugir do próprio pensamento. Eis o tempo, vivo! Pois sempre pensei, adular a história é um dos atos mais fracos que a humanidade se impõe, eu não divido com os aduladores esse troféu, prefiro romper com a história, o mito é forjado para desencorajar o lado colorido dos olhos, dos braços e das pernas que fogem do nascedouro para viver outro tempo, mesmo que dentro de um mesmo lugar. Hoje, a obra de arte da vida é similar aos preceitos da obra dita de arte, exceto que o indivíduo tenha que ser reconhecido por uma comunidade; hoje, ele cria seu mundo, forja suas cores, inventa viagens, saí pelo mundo afora mas pode viver vendo e recriando um tempo como se fosse uma arte para os olhos e para o coração. Até porque a arte hoje tem sua devida aceitação no valor imposto pelo julgo do seu valor comercial, o valor é proporcional ao valor que o mercado estabelece. Esquecemos os esquecidos da arte no Século XXI, por isso, se eles ainda existem, o melhor deles é viver pelo mundo. Uma fuga recriadora de vida intensa.



Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...