sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Trem Noturno

    Imagem do filme Trem Noturno para Lisboa


“Tudo se me confunde. Quando julgo que recordo, é outra coisa que penso; se vejo, ignoro, e quando me distraio, nitidamente vejo.”
Fernando Pessoa – Livro do Desassossego

Quando te olho fico com medo,
Quando fico com medo,
Olho teus olhos.
O desejo é parte do olho oculto.
A tua pele é minha olheira,
Adormeço em teu barco.
De olhos escuros, embaçados,
Tuas águas em boca escaldante,
Que me mergulha na translucidez que:
Me olha,
Te come,
Te olho,
Te mordo.
A cauda da vida é a serpente,
O trem que desaparece no desconhecido.




quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Dia Transparece



“Mas que proposição é esta que afirma que a mistura do branco remove o colorido da cor?”                                                                                       Ludwig Wittgenstein 



A máscara preenche a ideia de um rosto com o material que é feito durante o tempo – o tempo que demora – para a face se tornar um rosto. A face é a membrana que cobre o rosto com a resina da vida, com todo óleo natural do organismo, com toda a perfeição doméstica de se enfeitar para a face representar um pouco mais o rosto que gostaríamos de estar no momento presente de um momento em que as cores começam transparecer no branco. A tentação é ver no branco todas cores que sumiram da vida.




quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sartre – L’Enfant Terrible ao L’Adulte Terrible que interpretou o idiota que se tornou gênio


“Uma vida é uma infância feita de gato e sapato, bem o sabemos.”
Jean-Paul Sartre (O Idiota da Família: Gustave Flaubert de 1821 a 1857) L&PM, 2013.

Na vida Jean-Paul Sartre soube viver como o homem que sempre soube escolher o que gostaria de viver e não aquilo que imaginaria viver. Ele bem disse em “A Náusea”, só há existência no personagem Roquentin. Tudo que existe é por nossa escolha. Sartre soube fazer muito bem seu caminho, escolhas que agradaram muitos; outros o abominaram profundamente e nada disso foi suficiente para ofuscar a sabedoria do homem que viveu intensamente seu tempo. As críticas não importam hoje em dia, ele foi um monstro sagrado do Século XX que construiu sua vida com atitudes, livros, textos e mais textos, com opiniões desastrosas e com sacadas inovadoras que provocaram a ira dos poderosos, dos santos, dos deuses e admiração de uma legião de homens e mulheres. Antes de tudo isso, Sartre soube fazer o pensamento mover-se, soube filosofar, é o que importa agora para mim, em pleno Século XXI, o tempo em que o pensamento anda escasso.

“O senso comum, com efeito, concordará conosco: o ser dito livre é aquele que pode realizar seus projetos. Mas, para que o ato possa comportar uma realização, é preciso que a simples projeção de um fim possível se distinga a priori da realização deste fim.”
(Sartre em O Ser e o Nada)



Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...